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Monstro Bolero

Monstro Bolero

01
Abr09

A comoção

Joan@

Há pessoas que se comovem com o que vêem nos filmes, ou nas séries, ou nos desenhos animados, enfim, com a ficção que lhe entra olhos adentro fingindo ser realidade por uns instantes. Comigo, durante décadas (ou pelo menos durante as duas décadas que tenho) isso nunca resultou.

Contam-se pelos dedos - ou melhor, por um dedo, portanto nem sequer é necessário um ser humano completo, qualquer pessoa amputada serve - as vezes em que me comovi com acontecimentos passados num écrã (retiramos desta contagem os telejornais, que aí sim, sou pessoa que chora copiosamente - quando vê a meteorologia, por exemplo).

O momento glorioso em que isso aconteceu, em que aderi de tal forma a uma ficção que sofri com ela, foi há quinze anos atrás, sentada no meu antigo sofá da sala, ao fim da tarde, a ver o Carrossel. Sim, uma telenovela mexicana dobrada em brasileiro. E daí? Não se riam, que aquilo era muito sofrido, como só os sul-americanos sabem ser. Havia um menino preto que era o Cirilo, era muito bonzinho e tinha um carrinho branco, e um menino branco que era muito mau e tinha um carrinho preto. Uma intriga densíssima, como podem ver. Personagens modeladas, daquelas que evoluem muito ao longo da narrativa! Já não sei reproduzir o momento que me levou ao pranto, mas sei que envolvia um velhinho muito velhinho que ia morrer, e o bom do Cirilo a despedir-se dele.

 

 

 

Isso é coisa para me comover. Mas só nessas condições. Se for feito por excelentes actores, num filme vencedor de vários Óscares da Academia e demais prémios, já não serve.

 

E isto vem tudo a propósito de quê?

Quinze anos depois volto a encontrar a minha capacidade perdida, a capacidade de ficar profundamente triste com o que se passa na televisão. Com vontade de chorar mesmo (embora controlada por enquanto). E o que é que me deprime assim, com essa facilidade? Um programa chamado Ligar, Ganhar. Estou a vê-lo há quase dez minutos e vou mudar neste momento de canal, caso contrário não consigo saír de casa hoje, tendo de me entregar ao Prozac...

Eu sei que programas destes existem aos pontapés pelas madrugadas televisivas fora. Mas ver pessoas às nove da manhã a tentar adivinhar o nome de frutos começados com A é muito mais deprimente. À noite, todos os gatos são pardos (uma frase que não vem muito a propósito), a começar o dia, um concurso destes, e a existência de pessoas que ligam para lá, enquanto o apresentador debita informação tão fascinante como a data de fundação do Sporting Clube Farense, faz-me perder toda a esperança na vida.

 

 

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