Um martelo no joelho
Ontem quase atropelei cinco bombeiros, com fardas reflectoras, em cima de uma passagem de peões. Parece-me que não podia haver acidente nenhum com menos atenuantes do que este. Eram soldados da paz, estavam bem visíveis e numa passadeira. Mas é aqui que entra um pequeno pormenor que há já muito me atormenta. Uma teoria que comprovo dia após dia. Existe em Portugal uma percentagem muito maior de malta com tendências suicidas do que num campo de treino no Afeganistão. É vê-los atirarem-se para as passadeiras sem aviso prévio, como quem carrega no botãozinho que acciona o cinto de explosivos. As pessoas acham que o facto de estarem a andar serenamente no passeio paralelo à estrada legitima que se atirem para o asfalto, numa arrancada mais rápida que as do Obikwelu. É uma espécie de performance. Os peões encarnam (na perfeição) o papel de "individúo-desinteressado-de-mãos-nos-bolsos-que-não-deseja-especialmente-passar-para-o-outro-lado-da-rua" e, de um momento para o outro, aí vão eles!
Sempre serve para testar os reflexos dos condutores. Obrigada. Prefiro este exame do que aquele em que o médico nos dá com um martelo no joelho.