Ponte aérea
Há quem se mostre muito chocado com esse estranho hábito dos portugueses (ao qual infelizmente nunca tive o privilégio de assistir) de aplaudirem quando um avião aterra (avião dentro do qual eles se deslocam, claro, senão eram ovações constantes ali junto ao Areeiro).
Eu cá compreendo-os muito bem, e vou até mais longe: sinto genuína vontade de abraçar e beijar demoradamente o comandante, no momento da aterragem (depois do avião estar bem parado, claro, não fosse esse ataque causar algum acidente). É que para mim é, e será sempre, um milagre, isto dos seres humanos voarem. E o desconforto vivido durante uma viagem de avião é recompensado no momento em que piso terra firme, e sinto uma alegria de viver que acho que nem no saudoso 3 de Janeiro de 1986 senti (até porque cortarem o cordão umbilical a uma pessoa é sempre coisa desagradável). É por isso que recarrego baterias em todas as viagens que faço. Não interessa os sítios onde vou, até posso fazer apenas Lisboa-Porto, mas se meter check in e check out, e bagagens e sacos de enjoo e, como diziam no último vôo da TAP em que andei "o colete da salvação" (o que dá à coisa um ar católico, e ao mesmo tempo cria em medrosos como eu a certeza de que sim, vamos mesmo morrer, é o dia do juízo final), é suficiente para eu me considerar uma sobrevivente quando saio do avião.