Contra os espirros, o coma induzido
Hoje venho falar-vos da minha experiência com anti-histamínicos. Mais precisamente com a oxatomida, o princípio activo de uns comprimidos que me deixam absoultamente inactiva, do princípio ao fim. É certo que cumprem a função pela qual recorro a eles: acabar com a alergia. Mas pelo caminho, levam tudo o resto. A insensibilidade no nariz, na boca, nos olhos ou nos ouvidos é tanta que era impossível lá ter qualquer tipo de comichão, ardor ou sensação minimamente humana. Por outro lado, e apesar de não estar descrito nos seus mil efeitos secundários, este tipo de químicos deixa-me num estado ao qual dou o nome de "demasiada autoconsciência". Eu sinto demasiado as partes integrantes do meu corpo. Sinto demasiado que tenho duas pernas, dois braços, uma cabeça (apesar deles, em si mesmos, estarem como já vimos insensíveis). Tenho demasiada noção de que eles lá estão e do quanto pesam. É difícil coordená-los de forma a pegarem em objectos ou subirem escadas (atenção: só solicito o agarrar de objectos aos braços e a subida de escadas às pernas, os efeitos secundários ainda não abrangem esse grau de confusão mental). Por isso o conselho que aqui deixo é: criançada, mantenham-se longe das drogas. E mantenham-se também longe de gatos, animais que podem obrigar-vos, pela sua largada compulsiva de pêlo, a consumir essas tais drogas. E agora vou fechar os olhos e dormir em cima do teclado. Já está.