Dias assim-assim
Há dias assim. Em que a chuva não vem de cima, vem de frente. Há quem lhe chame vento. Eu chamo-lhe má vontade. Há dias assim, em que nos dói a cabeça se a mexemos, em que nos dói a garganta se falamos, em que nos doem os ouvidos se nos rimos, em que nos falta o ar se andamos mais de vinte metros. Há quem lhe chame gripe, eu chamo-lhe um pequeno atentado terrorista com recurso a arma química, vulgo Nimed. Há um nome que se dá a estes dias. Eu não vou dizê-lo, porque sou extremamente bem educada. Há dias assim, em que "amanhã é que vai ser". O encontro sempre adiado, o sabor da comida de volta, o acordar sem estar com a garganta colada à primeira vértebra, a vida normal que ainda no sábado tínhamos. Há dias assim em que é como se fossemos todos do Benfica, à espera do futuro que nunca chega, lembrando um passado vagamente glorioso, do qual só recordamos as partes boas. Uma grande desgraça, portanto.