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Monstro Bolero

Monstro Bolero

24
Out10

Pelo direito à ilusão

Joan@

Diz o dicionário que ilusão é "engano nos sentidos ou pensamentos". E há lá melhor coisa do que andar enganado?!

O Pai Natal tem muito mais encanto antes de percebermos que é o nosso primo mais velho com um fato encarnado dos chineses. Perceber que um Pai Natal domina o idioma português é o primeiro passo para a desilusão. Toda a gente sabe que a nossa expansão não passou pelos lados da Lapónia, qual era a probabilidade de um velhote gordo e de barba ter suficiente proactividade para se inscrever num curso livre de "Português para estrangeiros"? Ainda assim fazemos o possível por continuar iludidos. Somos miúdos mas não somos estúpidos, tentamos é esticar a corda enquanto ela não rebenta. Enquanto o nosso primo não estica demasiado o braço e mostra aquele relógio que só ele é que tem e que se esqueceu de tirar para encarnar o Pai Natal... Amadorismo.

Na televisão o engano profissionaliza-se, o amadorismo fica de lado e há gente que se forma e se prepara para conseguir enganar o melhor possível. E nós acreditamos! Quanto mais trabalhos faço para essa coisa a que tantos insistem em chamar "caixa mágica", melhor percebo o quão acertado é este termo. A televisão é de facto como aqueles kits de magia que nos dava o nosso primo Diogo, ai, desculpem, o Pai Natal. Lá dentro está cheia de truques, lenços que se transformam em coelhos brancos, moedas falsas e mangas postiças de onde saem pombos (nunca tive um kit tão evoluído assim, confesso). A televisão é, toda ela, um truque digno de David Copperfield nos seus melhores anos. Serram senhoras ao meio e nós não percebemos para onde é que elas vão, sorteiam carros e casas e nós acreditamos sempre que é tudo feito de forma idónea - e não combinado com uma tia do assistente de realização, fazem reality shows e nós não nos intrigamos com o facto de na ficha técnica haver equipas inteiras de guionistas.

Robert Redford tentou alertar-me para isso há muitos anos, com o seu "Quiz Show" mas aí pensei "isto é cinema, não é realidade". Nunca consegui ser crédula no que à sétima arte diz respeito. Talvez por se desenrolar num cenário tão imponente, com um ecrã tão gigantesco e disforme, com um aparato que não é compatível com a nossa verdade da vidinha de todos os dias. No cinema, sempre que há sangue eu penso no trabalhão que deu à equipa de maquilhagem, sempre que alguém cai dum prédio eu reparo que não se vê a cara do duplo que, coitado, teve que saltar do arranha céus abaixo.

Passei mais de metade da minha vida ou a olhar para um ecrã, ou a ouvir coisas que vinham dum ecrã, ou a comentar coisas que saíram desse ecrã. E ultimamente tenho ouvido histórias que põem em causa tudo aquilo que eu tomava como verdadeiro. É um choque! Descobrir, aos 24 anos, que a Gisela Serrano do Masterplan não era casada com aquele trinca-espinhas, que eram um casal formado num casting, é devastador. É coisa para me fazer ir às Tardes da Júlia no dia em que o tema for "sonhos destruídos" (é provável que as pessoas que lá vão sejam figurantes também, ainda é coisa para me render uns bons dez euros). E como esta história há tantas, tantas outras, que obviamente vou guardar para mim, porque não quero fazer o papel daquele miúdo que vai avisar os irmãos mais novos de que o Pai Natal é afinal o primo Diogo.

Para o dicionário ilusão é também uma "esperança irrealizável", e deve ser isso que explica que eu continue a fazer o esforço diário de esquecer que é tudo combinado e olhar para a televisão com o fascínio e os olhos esbugalhados doutros tempos. É difícil, mas com esforço chega-se lá. Este Verão tambem consegui estar na Disney World e acreditar que o Mickey era verdadeiro, e não um estagiário venezuelano a transpirar dentro dum fato de peluche. Não há limites para mim, no que à ingenuidade diz respeito. Venha de lá mais uma dose de Casa dos Segredos.

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