O Humor em Portugal
Eu adoro ver televisão, não é novidade para ninguém. E raras vezes me sinto defraudada. Acho que se retira sempre qualquer coisa de positivo: sou capaz de ver repetições do Mundo das Mulheres, directos do telejornal, o boletim meteorológico do senhor de lacinho da RTP, desenhos animados do canal 2, a ginástica da Praça da Alegria, entrevistas de Eládio Clímaco na RTP Memória, o filme que já passou 57 vezes no Hollywood, a crítica de jogos de playstation na Sic Radical, seja lá o que for, por mais desinteressante que seja. Quem come de tudo diz que é "boa boca", eu neste caso sou "bom olho", não tenho qualquer critério, tudo marcha.
Há muito tempo que não me sentia como ontem, depois de ver a reportagem da RTP sobre o humor nacional. Apeteceu-me escrever para a televisão estatal a pedir os meus minutos todos de volta. Se tempo é dinheiro, da maneira que isto anda, perdi uma fortuna ontem, que tanta falta me faz. O tema é apetecível e dá pano para mangas. Matéria-prima e mão-de-obra não faltam. Mas a jornalista Mafalda Gameiro conseguiu estragar tudo. Fiquei logo preocupada com os oráculos com o sofisticadíssimo "smile" amarelo. Não augurava nada de bom. Nem isso nem os inserts de um grupo de jovens escuteiros numa sala a rir desalmadamente em frente à televisão. Como se as pessoas ainda reunissem grupos de 15 elementos para ver alguma coisa na televisão que não seja futebol. A reportagem foi uma sucesão de momentos desconexos: Luís Filipe Borges e Pedro Fernandes a comer pipocas na Carruagem, Filomena Cautela e Pedro Mexia apresentados como comediantes - estando um muitos níveis abaixo e outro vários degraus acima (deixo ao vosso critério quem é quem, até porque calculo que apreciem imenso as crónicas de Cautela), um vídeo-OVNI de Raul Solnado plantado lá no meio e, acima de tudo, a tentativa (vã! mesmo muito vã!) de Mafalda Gameiro ser humorista enquanto entrevista Ricardo Araújo Pereira e o trata como um miúdo da quarta classe.
Quanto ao critério das pessoas escolhidas, dá sempre azo a discussões... também as houve quando passaram as Divinas Comédias. Tal como cada um de nós escolheria o seu próprio best of musical do ano ou da década, cada um escolheria os seus cómicos. Mas é impossível comparar o critério de um e doutro trabalho. A reportagem de ontem mais depressa parecia saída do Só Visto, para publicitar os programas da RTP. E ao menos a Núria Madruga é mais gira, e acredito até que faria perguntas mais acertadas, e menos comentários do género "este aqui é um prato".
Para quem quiser partilhar o sentimento de vergonha alheia que me consumiu na noite de ontem, aqui fica. Boa sorte: