25.
Fiz ontem bodas de prata comigo própria. Parte má: estou velha. Parte boa: não penso divorciar-me. Quanto mais não seja porque com esta idade tão avançada e cheia de maleitas já não encontrava ninguém que quisesse ser eu. Portanto vou em frente, até às bodas de ouro (e platina, espero).´
Pela primeira vez fiz anos num dia normal. Não é que nos outros anos os dias não tivessem tudo de normal (desde o sol a nascer no princípio até ao carro do lixo a vir fazer a recolha no fim), eu é que teimava em transformá-los numa espécie de episódio especial de "Oprah's Favorite Things". Todos os minutos de todas as horas tinham de ter alguma coisa extraordinária a passar-se, o que acabava por causar mais exaustão do que êxtase. Ontem fiz 25 anos e isso não foi "a big deal". Mais importante foi a minha avó ter feito 88 anos na véspera, por exemplo, e eu ter reparado que quando fizer 88 anos, já não vou ter direito a essa pré-festa no dia 2 (a não ser que arranje uma neta que perpetue a irritante pontaria de nascer em época de ressaca). Mais importantes são todas as coisas que quero fazer em 2011, mais importante foi fechar o dossier "festividades" para poder voltar à vida normal, de todos os dias, que parece tão chata e afinal deixa tantas saudades, e mais importante ainda é deixar claro que gostei na mesma do meu dia, não sofro de qualquer tipo de depressão pós-parto com 25 anos de atraso e não quero que enviem enfermeiros com colete de forças para me virem buscar.
É claro que aproveitei todo e cada clássico do aniversário o melhor que pude: o pretexto para falar com gente que anda por aí perdida o ano todo e só cruza palavras em datas de nascimento, o quase bolo de anos oferecido pelos coleguinhas de redacção (um quase-bolo porque na verdade era um tronco de natal, e nem sequer quisemos saber porque raio alguém faz um tronco de natal em Janeiro...), o jantar com pompa e circunstância feito pela minha mãe, com direito a vol au vent e a cheesecake (o que prova que, das duas uma, ou somos uma família snob que só fala com estrangeirismos, ou estivemos vários anos emigrados na Suiça e em Newark, deixo à vossa consideração a conclusão), os presentes (desde a Escapada Pitoresca, que é nome digno de filme de domingo, até um relógio novo para pendurar numa parede nova). E por falar em presentes: estou crescida! Não recebi nenhum jogo, nenhum brinquedo, nenhum livro de colorir, só livros de receitas, pratos, travessas, talheres... A minha família quer transformar-me na Nigella Lawson. E eu deixo, que acho que isso ainda pode reverter a meu favor. É que até em termos gastronómicos eu estou crescida. Ontem almocei bacalhau cozido! Sim, comi aquele peixe que todos os adultos adoram, depois de anos e anos sem abdicar de um muito maduro atum ou duns sofisticados douradinhos.
Lembro-me de andar na escola e imaginar que gente com 25 anos era muito adulta, com vida feita, casa posta, marido e filhos.
Como não gosto de defraudar ninguém, e muito menos a mim mesma, anuncio aqui oficialmente que...
Não, estou a brincar. Vou continuar a crescer devagarinho, como fiz até aqui (por algum motivo ainda não passei dos 1,53m). Um pé atrás do outro. Um dia bacalhau cozido, noutro dia (quem sabe sexta-feira) habitação própria, e quando dermos por nós vou usar aquelas malas de couro que as mães usam e dentro das quais trazem carteiras que por sua vez têm fotografias tipo passe dos filhos, nas quais os filhos nunca estão favorecidos.