Saber perder
Eu nunca soube perder, e ainda hoje continuo a não ser grande coisa nessa matéria, admito.
Nos serões familiares jogávamos Trivial Pursuit e eu, apesar de ser a mais nova de todos e não ter qualquer hipótese, acreditava sempre piamente que ia ganhar, e ficava enfurecida quando isso não acontecia. Invariavelmente deitava o tabuleiro ao chão como quem não quer a coisa, e a história costumava acabar com um açoite ou um castigo. Serões divertidos, portanto.
As coisas não mudaram assim tanto desde então. Basta recuar até ao Verão passado para recordar jogos de ténis ou de bowling, nos quais eu, ao fim de poucos minutos, e com a derrota mais que assegurada, começava a jogar com displicência e sem vontade, tentanto que os desafios fossem cancelados por falta de (minha) comparência.
Por todos estes motivos penso sempre duas vezes antes de criticar quem não sabe perder. Não tenho grande moral para apontar o dedo aos jogadores que agridem adversários e levam vermelhos directos. Se eu jogasse futebol era certamente esse jogador. Duvido que aguentasse mais de dois/três minutos em campo num derby.
Provavelmente o tal "electricista" da Luz sofre do mesmo problema que eu. Temos de dar o devido desconto. Afinal de contas é só mais um caso de erro de casting no Benfica. A pessoa errada na função errada. Espero pelo menos que o electricista tenha sido mais baratinho que o guarda-redes.
Continuo a ter pouco jeito para perder e o futebol não me tem dado grandes hipóteses de aprender, devia ter escolhido um clube que perdesse mais frequentemente! Ainda assim continuo a sentir a mesma inveja que sentia na escola, quando via meninos (e meninas) que apesar de perderem os jogos saíam de campo alegremente, como se nada fosse, enquanto eu pegava na lancheira, entrava no carro do meu pai e tinha vontade de lhe pedir para parar rapidamente numa bomba de gasolina. Para comprar sugus? Não. Para partir aquilo tudo. Já me estou a ver, de bibe e panamá na cabeça, a pontapear quem se pusesse à minha frente...
Saber ganhar é mil vezes mais fácil do que saber perder, não há dúvida. Por isso deixo hoje aqui a minha solidariedade para os benfiquistas mais ferrenhos de que há memória: grande abraço para os redactores d'A Bola. Amanhã já podem voltar a fazer capas com Jorge Jesus vestido de Schwarzenegger e essas coisas giras, e esquecemos todos que isto se passou. Volta tudo à normalidade.