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Já está! Não custou nada! As PF fizeram dezasseis anos, eu só fiz dois deles, mas soam a qualquer coisa como uma década. Acho que ao passar da porta entramos numa espécie de máquina do tempo.
Em contas curtas e rápidas (que a minha (in)competência matemática não dá para mais), quando eu tinha 7 anos uns senhores, algures em Lisboa, acharam por bem dar existência real ao seu trabalho fictício. E eu queria lá saber. O meu trabalho fictício, à época, envolvia qualquer coisa como jogar ao Polícia e Ladrão ou capitanear uma equipa de futebol humano (e nisso é que eu era mesmo boa!).
Aos 11 anos via o Herman Enciclopédia com fascínio absoluto. Achava fantástico que um grupo de adultos, supostamente com idade para ter juízo, tivesse divertimentos capazes de superar um bom jogo das Escondidas. Coisas como o Diácono Remédios ou o Melgashop.
Por essa altura, essa inspiração servia para as festas de Natal que organizava numa parceria com o quarto do lado (o do meu irmão), torturando toda a família, durante a Consoada, com os nossos sketches, que envolviam sátiras a anúncios, telenovelas mexicanas e comícios do PCP. (Pelo menos nessa altura não havia preocupações com audiências, os meus tios e avós estavam emparedados entre a mesa do bacalhau e a dos doce, tinham que ver o espectáculo quer quisessem quer não).
Quando fui eu a fazer 16 anos, já tinha tido oportunidade de ver (e rever) O Programa da Maria, talvez o meu "all-time favorite", e apesar de já não servir de inspiração directa para festas de Natal (entretanto canceladas devido a súbito envelhecimento do meu irmão, que abandonou o comité organizador), servia para perceber que "somewhere over the rainbow" (ok, vou parar com o vocabulário inglês, que começo a assemelhar-me perigosamente com a Ana Free) continuava a haver gente com idade para votar e guiar e entrar em casinos, que optava por fazer da palhaçada uma profissão (não que votar, guiar e entrar em casinos não seja igualmente divertido, mas é difícil fazer disso vida, a não ser que sejamos membros de conselhos distritais, camionistas ou croupiers).
Isso dava-me alguma esperança, já que a minha profissão da altura era coleccionar faltas disciplinares, fruto de óbvia falta de sentido de humor dos meus professores da escola secundária.
Agora que as PF fazem 16 anos (e vão sendo também, algumas vezes, expulsas das salas por mau comportamento), eu começo a aperceber-me, muito lentamente, que já não tenho essa idade, embora esteja muito bem conservada. Ainda a semana passada, na farmácia, me deram 15 anos (e foi antes de eu ingerir qualquer tipo de comprimidos ou drageias). Do alto (ou neste caso de baixo) dos meus 23 anos, resta-me aprender muito, aprender tudo o que falta, e esperar um dia fazer alguma coisa que sirva de inspiração a festas de natal domésticas. Há quem deseje mudar o mundo, eu só desejo isso: parentes próximos ou afastados a agonizar por entre peru e rabanadas, enquanto os primos mais novos anunciam com pompa e circunstância o décimo oitavo sketch.
Hoje falou-se por aqui em "margem de progressão" (às vezes gostamos de imitar as palestras do Queirós), eu acredito (e nestes momentos de ingenuidade percebe-se que na verdade continuo a ter 7 anos) que não há outro sítio onde essa margem pudesse ser maior. Sobretudo porque existe margem de manobra. Espaço para tentativa, erro, voltar a fazer, tentar fazer melhor da próxima vez. Ainda acredito que a escolha pode ser nossa, entre fazer alguma coisa (com todas as chatices que isso implica) ou ficar à margem, a criticar o que os outros fazem. E vou parar imediatamente com este campo semântico da palavra "margem" porque não tarda nada vou parar à Margem Sul, uma coisa que quem me conhece sabe ser muito habitual (sobretudo ao voltante de um automóvel, tentando ir para outro sítio qualquer). Assim sendo, fico por aqui.