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Monstro Bolero

Monstro Bolero

13
Jan10

Dias assim-assim

Joan@

Há dias assim. Em que a chuva não vem de cima, vem de frente. Há quem lhe chame vento. Eu chamo-lhe má vontade. Há dias assim, em que nos dói a cabeça se a mexemos, em que nos dói a garganta se falamos, em que nos doem os ouvidos se nos rimos, em que nos falta o ar se andamos mais de vinte metros. Há quem lhe chame gripe, eu chamo-lhe um pequeno atentado terrorista com recurso a arma química, vulgo Nimed. Há um nome que se dá a estes dias. Eu não vou dizê-lo, porque sou extremamente bem educada. Há dias assim, em que "amanhã é que vai ser". O encontro sempre adiado, o sabor da comida de volta, o acordar sem estar com a garganta colada à primeira vértebra, a vida normal que ainda no sábado tínhamos. Há dias assim em que é como se fossemos todos do Benfica, à espera do futuro que nunca chega, lembrando um passado vagamente glorioso, do qual só recordamos as partes boas. Uma grande desgraça, portanto.

07
Jan10

Estações de Serviço

Joan@

Esta minha incursão pelo maravilhoso mundo do Dmail fez-me lembrar os saudosos (uma pessoa faz 24 anos e sente-se no direito de ser nostálgica) tempos das Condutoras de Domingo, em que sustentei mais de um ano de programa graças aos produtos incrivelmente úteis que encontramos nesse catálogo. E ainda me pagavam (para cima de cinco euros, mensais). Era uma rubrica chamada Estação de Serviço e vou recuperar aqui alguns desses textos. "E porquê?" perguntam vocês... Por serem extremamente sagazes? Não. Só porque me apetece. E se há pessoas a quem apetece inventar um porta-banana, e inventam, o que sou menos que elas?

 

Estação de Serviço - Curiosidades do Mundo

Hoje quero dedicar esta visita à estação de serviço a todas as pessoas sós. É um gesto bonito da minha parte, eu sei, e só por isso, nem sequer vou falar em preços, porque se há coisas na vida que o dinheiro não compra, as “curiosidades do mundo” são uma delas. Estes objectos são uma arma poderosa contra a solidão e podem encontrar-se no mítico site Dmail.pt. A questão que se impõe é: porque é que isto são “curiosidades do mundo”? Existirá algum ilhéu distante, perdido no Pacífico, onde todos os nativos usam estes artefactos? Uma coisa é certa, a existir, será uma povoação muito ruidosa. Se está farto do silêncio da sua casa, é só abrir o catálogo e escolher. Para começar, um abre-garrafas musical, que promete: “sempre que abrir uma garrafa ouvirá o verdadeiro som do rock’n roll tocado por uma guitarra, uma simpática ideia para oferecer a um amigo músico, e a grande atracção dos seus jantares”. Tenho muito medo desta gente: músicos que se fascinam com um utensílio de cozinha que canta, e jantares em que a animação é tal que o melhor mesmo é ouvir o abre-garrafas! Se preferir, há também canecas mágicas, que “parecem normais mas... sempre que as levanta gatinhos muito doces começam a miar”. Sem esquecer as molduras falantes, que permitem que ao ver as fotografias se ouçam descrições como: "aqui está o Mário, à beira-mar, à procura da sua sereia." A única dúvida que tenho é se as minhas fotografias poderão dizer exactamente esta frase, mesmo que me mostrem a mim na estação de metro do Lumiar. Eu gostava.

 




Mas as ofertas não ficam por aqui: para os eremitas fumadores existe um cinzeiro que tosse – equipado com sensores, lança um saboroso catarro de cada vez que lá se pousa um cigarro.

 


E para quem, mesmo na cozinha, acha que o barulho da máquina de lavar e do microondas não é suficiente, nada melhor que uma torradeira com rádio integrado, cujo slogan impõe respeito: “na cozinha é outra música”. Permite sintonizar todas as estações e ouvi-las durante todas as fases de torragem e aquecimento! Por isso, se alguém estiver a ouvir as condutoras numa torradeira, aquilo que posso desejar é que não deixe queimar o pão de forma e… bom apetite!

 


[Condutoras de Domingo, Novembro de 2007, Antena 3.]

 


 

 

07
Jan10

Um tiro no porta-banana

Joan@

Melhor que uma assinatura do Washington Post ou do Corriere dela Sera, só mesmo receber todos os meses em casa o catálogo da Dmail. Onde há pérolas como esta:

 

Porta-banana: fruta protegida, fruta mais deliciosa!

Porque nunca se sabe quando lhe vai dar a fome... Este porta-banana em plástico abre-se, coloca-se a fruta lá dentro, fecha-se e leva-se na mala, na mochila, até mesmo na pasta de negócios! A sua banana estará sempre protegida de possíveis embates.

 

Não sei o que acho mais fascinante: se é a inutilidade desta invenção (se há coisa que se transporta facilmente é uma banana), se é a hipótese de levar o porta-banana numa pasta de negócios (fica sempre bem junto ao filofax), se a apelativa frase final "a sua banana estará sempre protegida de possíveis embates". Realmente se há coisa que me angustia e atormenta é a possibilidade de embates sempre que transporto mercadorias perigosas como as bananas.

 

 

 

04
Jan10

24 sobre 24

Joan@

 

 

 

À entrada das primeiras 24 horas com 24 anos, até que estou a gostar disto. E porquê? Por várias (24) ordens de razões.

 

1 - Tenho uma Wii! (weee!)

 

 

2 - Tenho uns ténis novos, o que me garante umas belas dúzias de horas a andar como se caminhasse sobre a lua - aquela sensação dos ténis acabados de estrear.

 

 

 

3 - Tenho mais uma data de artigos dignos de enxoval, o que me leva a crer quem em 2010 as indirectas da minha mãe sobre o meu abandono do lar se tornarão progressivamente mais directas que qualquer sufrágio no PSD.

 

4 - Tenho uma lancheira nova, eu que prezo tanto esse ritual quotidiano de preparação e transporte do meu almoço. (não há momento melhor para reflexão do que quando damos por nós às duas da manhã a grelhar frango para o dia seguinte)

 

Sei que por esta altura já estão a pensar "que materialista!" - mas eu também tenho direito aos meus momentos "pipoca mais doce" (sem a parte dos sapatos de salto alto, do Benfica e de me referir ao meu namorado como "o meu homem"). Ainda assim tenho alguns apontamentos menos superficiais para partilhar:

 

5 - Fiz o "aquecimento" para a grande efeméride nos 87 anos da minha avó, ouvindo-a contar histórias que já ouvi para cima de 87 vezes, sobre os tempos em que vivia num hotel e tinha um imediato (sempre adorei esta designação) que tomava conta dela.

 

6 - Passei a meia-noite como há muito tempo não acontecia: entre amigas. A ver um filme hediondo chamado "The Woman" (o que, pensando bem, me aproxima ainda mais da "pipoca mais doce", medo!), trazido de um dos últimos clubes de vídeo da cidade (e quiçá do mundo) perpetuando uma tradição muito nossa: pagar para ver os piores filmes de que há memória. 

 

7 - Recebi um mail do Sri Lanka e outro de São Tomé, e cada um no seu género me deu muita vontade de rir. (também recebi alguns de Carnaxide ou Linda-a-Velha, mas não causam tanto frisson).  

 

8 -  Recebi um presente by air mail (na verdade foi mail apenas) em directo de New York, o que me fez lembrar 1) a sorte que tenho, 2) que em breve compro o bilhete de avião.

 

9 - Tenho uma família que, não sendo exemplar, é um belo exemplo de insanidade saudável, a começar na camisa de flanela que o meu pai usa para "andar por casa" e a acabar na brutalidade meiga (tough love, há quem lhe chame assim) da minha mãe.

 

10 - Tenho uma amiga/irmã/esposa de longa data, que vem cá anualmente, pensa ela que para almoçar. Na verdade vem actuar, com uma performance cómica ao longo de todo o almoço, e como julga que é uma mera convidada, não lhe damos cachet. Pagamos em cajus. E ela gosta.

 

11 - Tenho amigos que todos os anos me surpreendem pela forma como me dão os parabéns (nota: falta só um aviãozinho a sobrevoar uma praia do Algarve, mesmo que eu não esteja lá para ver), e também aqueles que se mantêm fieis a si próprios esquecendo-se de forma gloriosa!

 

12 - Passei o dia com a televisão desligada, coisa inédita para tão grande aficcionada do Goucha, a praticar esse desporto ancestral e em vias de extinção que é a conversa amena.

 

13 - Hoje foi domingo e eu não reparei. Hoje estava um céu cinzento e carregado e não me importei. Hoje estou com uma constipação de caixão à cova e não fiquei de cama.

 

14 - Abandonei um 2009 cheio de projectos encerrados (um livro, uma árvore - ok, na verdade é um cacto, mas tem sobrevivido heroicamente - e felizmente nada de filhos), chego a 2010 com uma data de projectos por abrir. O que por um lado é uma canseira, mas por outro é um desafio (são sinónimos, no fundo, nas versões pessimista e optimista, sejamos claros).

 

15 - Começo 2010 com mais amigos do que tinha em 2009. E neste cálculo não me refiro a nenhum indivíduo alcoolizado com o qual tenha encetado uma bonita amizade na noite de reveillon.

 

16 - Tenho a certeza que vou cumprir cada uma das doze resoluções de ano novo.

 

17 - Tenho programadas sessões intensivas de Brothers and Sisters com a minha mãe, na sala, e sessões individualizadas de personal viewing de How I Met Your Mother, no recato do meu quarto.

 

18 - Tenho uma data de livros novos para ler. A começar no Bolaño e a acabar na grande antologia dos 50 anos da Rua Sésamo.

 

19 - Tenho uma agenda em branco, pronta a ser preenchida.

 

20 - Acabei o dia a comer o primeiro sushi de 2010, incluindo um maki de caranguejo. Só pode dar boa sorte (é tão legítimo acreditar nisto como na história das cuecas azuis, e sempre sabe melhor!).

 

21 - Tenho um amor maior que eu. E não vou acrescentar o "literalmente" porque a piada já é batida... (era aqui que a "pipoca mais doce" atacaria com "o meu homem". Não vou fazê-lo).  

 

22 - Estou a ouvir um recém-sacado CD dos Jackson Five (dos tempos em que o Michael Jackson ainda tinha a cor de origem e fazia boa música): "Don't blame it on sunshine / Don't blame it on moonlight / Don't blame it on good times / Blame it on the boogie"

 

23 - Ainda não tenho sintomas de artrite reumatóide, até ver. Mas a aparecer, as primeiras dores serão certamente nos dedinhos, derivado a teclar.

 

24 - Pela primeira vez, desde que me lembro, não chego ao fim de dia 3 de Janeiro absolutamente deprimida, pela antevisão de 360 dias desprovidos de festividades dignas desse nome (todas as que não são dedicadas ou ao menino Jesus ou à menina Joana). Acho que finalmente percebi que mais importantes que os dias que são especiais à partida, por decreto e registo civil, são os dias banais, que precisam de alguma iniciativa nossa para os tornar verdadeiramente surpreendentes. Demorei 24 anos mas cheguei lá. Ainda hoje o meu irmão me acusava de défice de inteligência, por ser incapaz de o acompanhar em jogos de estratégia. Tem alguma razão. Não dou para jogar ao Risco como não dou para me preocupar com outras 24 coisas negativas que podiam estar aqui em vez destas. Eu sou mais de coisas imediatas. E assim voltamos ao princípio: já vos contei que tenho uma Wii, daquelas que dão para jogar ping pong com uma bola invisível, como se na verdade só tivessemos 4 anos? Já? Óptimo.

 

 

 

04
Jan10

A Avó Estela

Joan@

No dia 2 de Janeiro a minha avó faz anos. Para nós, são 87. Para ela são "três para os 90".

 

Ela vem sempre antes de mim. Nasceu um dia (e sessenta e tal anos) antes de mim. Gosto sempre mais do dia 2 do que do 3, porque a minha festa ainda está para vir. Estamos só a dar o mote. Ainda não há o cheiro a velas apagadas por um ano inteiro, ainda não há os convidados a saírem quando nos apetecia conversar mais, ainda não há o resto do bolo , desfeito em migalhas, que vai acabar no lixo depois de um exílio no friogrífico.

Andamos ao contrário mas cruzamo-nos sempre. E paramos para tomar "o chá das cinco". Uma tradição que prometo não deixar cair em desuso. Porque nalgum dia do ano tem que se dar uso ao serviço de chá inglês, e ao açucareiro de "casquinha" (seja lá o que for esse material!).

Os meus pais sempre me disseram para ter cuidado com as companhias, com os amigos mais velhos, mas o que hei-de fazer? A minha melhor amiga tem mesmo mais 63 anos que eu. E está sempre lá para me dizer que tudo o que eu faço é bem feito. Porque há pessoas das quais não queremos a verdade rigorosa e científica, mas apenas o amor incondicional e tendencioso. Está sempre lá para se rir de todas as minhas piadas, com vontade genuína. Ouvia o programa de rádio ao domingo de manhã, vê o programa de televisão às nove da noite, mesmo quando tem coisas a queimar ao lume, leu de fio a pavio o meu livro sobre adeptos de futebol, perguntando-me a páginas tantas "quem é esta senhora?" perante um boneco do João Vieira Pinto...

Esta minha amiga, ontem, "escangalhou-me" (on her own words) o telemóvel. Tropeçou no fio quando ele estava a carregar, e deu cabo dele (que também já não ia para novo). Depois, ficou muito "ralada" com o sucedido, dizendo todo o tipo de asneiras que fazem parte do seu léxico: "merde treze" (não me perguntem porquê) e "raios partam o Padre Lino" (não me perguntem de todo porquê). Perante esta "maçada" monumental, ofereceu-se várias vezes para me pagar um telefone novo (sem sucesso, é claro), intenção compreensível, vinda de alguém que, quando peço para me passar a água nos almoços de domingo, me responde "água eu fosse, minha querida". E se lhe pedir uma fatia do cheesecake que comprou por ser o meu preferido (apesar do aniversário ser, ainda, o dela), certamente dirá "cheesecake eu fosse". A verdade é que não é todos os dias que temos gente disposta a materializar-se em comida por nós, gente que diz "ok chefe" a qualquer pedido nosso, gente que nos comprou dezenas de milhares de carteirinhas de cromos ao longo da vida, e que brincou connosco às passagens de modelos, aos ginásios e aos barcos, sempre no mesmo quarto, sempre com o mesmo cenário. Gente que puxa assim pela nossa imaginação não se encontra por aí aos pontapés.

 

Eu hoje passei o dia a receber chamadas e mensagens de gente que não sei quem é, e a lutar com um teclado gelatinoso para conseguir dar resposta a todos os "parabéns". Mas nem por um segundo consegui chatear-me com a D. Maria Estela Baptista. Nem uma pequena praga lhe roguei. É impossível. Restou-me encomendar um telemóvel novo e sorrir, abanando a cabeça como quem diz outra frase típica dela: "isto só visto, que contado não tem graça".

 

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