Acredito, do "alto" dos meus 1,53m, que quando nos deparamos com coisas demasiado grandes precisamos de nos afastar para as ver na totalidade. É assim com os arranha-céus de Manhattan. É assim com férias que duram mais que os três ou quatro dias do costume. É assim com um povo cujas doses são todas a dobrar, todas extra, todas delight, todas intense, todas qualquer-adjectivo-que-faz-com-que-o-comprador-obeso-salive-e-queira-adquiri-las-custe-o-que-custar.
Pois é. Voltei dos EUA há uns bons quinze dias e acho que só agora é que começo a lembrar-me de como aquilo é.
Desde a simpatia geral exagerada, num misto de Barbie e pessoa que consumiu muita droga, em Orlando, até às imagens quase psicadélicas de Times Square: nunca pensei que estar num gigantesco intervalo publicitário pudesse ser agradável. Sem esquecer a sobriedade da "New England" em Boston, com as suas universidades intermináveis que dão vontade de mudar o nome da nossa Cidade Universitária para Aldeia Rural Universitária. Entrar nos Estados Unidos pela porta da Disney é muito esclarecedor. Depois de ver famílias americanas a comer batatas fritas e pizza às oito da manhã, percebe-se muito daquele mundo. Por outro lado, o entusiasmo deles com tudo o que mexe, seja alguém vestido de Pato Donald ou uma montanha russa, leva-nos a crer que isto de ser infantilóide toda a vida pode ter o seu lado bom. Pareceram-me felizes debaixo da ignorância de quem pensa que "a Europa" é um país. Se calhar eles é que sabem! Podem não passar dos 35, com um ataque de colesterol, mas pelo menos são 35 anos bem passados... (ou "well done", como eles dizem, e de preferência com ketchup, maionese e molho barbecue). Em Boston vemos que afinal há esperança para o segmento de humanidade que nasceu americano. Se bem que lá apanhei a comemoração do "Dia Nacional do Donut", imagine-se. Ainda assim, lá já existe história para além da invenção de um bolo frito com buraco no meio. Afinal de contas, é o sítio onde se deu a Tea Party. E cheira-me que desde essa altura, em 1773, que nunca mais se bebeu nada tão saudável como chá naquela terra. Agora é so capuccinos com natas e chocolate e topping de caramelo e manteiga de amendoim. Além do mais, sempre sonhei ir ao estado que mais dificuldades de dicção coloca a quem usa aparelho nos dentes: Massachusetts!
Depois, e para não dizermos sempre que Portugal é que é um país atrasado, e que "estas coisas não se passam lá fora", passei precisamente oito horas dentro dum comboio avariado, cujo percurso até NY devia demorar apenas 3h. E garanto que gente entediada dentro dum comboio sem ar condicionado é igual em qualquer parte do mundo. Depois disto, foi tudo. China Town, Soho, Union Square, Central Park, Brooklyn Bridge, Wall Street, um outlet que me deixou à beira da falência, tipo vítima do Madoff, Madison Square, Pier 17, Empire State, 5th Avenue, todos os sítios que já vimos antes, e que apesar de tão distantes nos parecem tão familiares. Estão dentro dos filmes, das séries, dos livros. Mas também estão lá. Afinal existem. Podem ir à confiança. E podem voltar, que também é bom, ao fim de uns quantos dias, regressar a um país que mesmo terceiro mundista, já descobriu a sopa de legumes e não tem tempestades tropicais debaixo de 35 graus.