Fazer malas. Madeira. Os taxistas do nosso aeroporto ao pé dos madeirenses são uns meninos de colo. 35 euros para chegar ao hotel. Piscina. Bolo do caco. Várias estações do ano no mesmo dia. Barco para Porto Santo. Porto Santo às moscas porque toda a população foi levada a ver o Querido Líder ao Chão da Lagoa. Rally da Madeira. Restaurante Riso, em que tudo leva arroz. Volta à ilha, não em bicicleta mas em carro alugado. Subida com inclinação de 27%. Carro não sobe à primeira. Nem à segunda. Inversão de marcha. Mais voltas à ilha. Casinhas de Santana, espetada em pau de louro, piscinas naturais. Poncha de maracujá. Senhoras e meninas nitidamente vestidas pelas boutiques do Cristiano Ronaldo. Bom sushi no Shu.aka. Casal tuga partilhando táxi connosco para fugir à máfia, e o cabeça de casal a dizer "que a pancha é um veneno, que as pessoas bebem como se fosse sumo e depois ficam com a cabeça à roda". Muitos escuteiros ou escoteiros - vá-se lá distingui-los - em todos os aeroportos e aviões. Não se pode proibir este fagelo?
Desfazer malas. Fazer malas.
O Grove. Ou "a estranha mania dos espanhóis juntarem o artigo ao nome da terra". Pinchos. Calamares. Praia em que a água se assemelha a uma cuvete de gelo gigantesca. Dores nos ossos. Praia bonita, ainda assim. A incompreensão de ainda haver hoteis que cultivam o cheiro a mofo. Aquilo deve dar trabalho, é preciso método para deixar sempre as janelas fechadas, permitindo que o aroma das alcatifas flua. Dono de café mal educado e pouco dado a receber clientes. Pedido de livro de reclamação. Pedido negado. Chamar polícia de O Grove. Bonitas fardas. Reclamação feita, procurámos outros sítios para mostrar o espírito contestatário dos portugueses. Sem sucesso. Os outros galegos insistiram em tratar-nos com amabilidade. Não se percebe. Mojito tostado.
Praias de Moledo e do Cabedelo. A gente do Norte só pode ser feita doutro material. Para os lisboetas a praia é sinónimo de descansar, andar de gaivota, comer gelados. Para eles é sinónimo de lutar contra o vento, entrar num mar de zero graus com bandeira vermelha, comer areia, evitar levar com um kitesurfer em cima. Digamos que mais do que uma tarde de lazer parece uma prova dos Gladiadiores Americanos.
Viana do Castelo.
E estes versos a ganhar mais sentido do que nunca:
Se o meu sangue náo me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia.
O sangue não me enganou. Uma das terras mais bonitas de Portugal. Pousada O Laranjeira, a mais pitoresca que já vi, e estrategicamente localizada em frente à confeitaria Natário, muito elogiada por Jorge Amado. Parece que a especialidade são as bolas de berlim. Tivemos que fazer o sacrifício de provar. Descobrimos que o Jorge Amado era um vendido, ou tinha um grave problema de gula. Apanhámos vários textos elogiosos sobre outros estabelecimentos de restauração. Devia ser amigo de comer à pala. Percebo agora o Gabriela "cravo e canela"! Só estranho não ser "Dona Flor e os seus dois pudins". Santa Luzia - quero uma casa com uma vista assim. Restaurante O Camelo, overdose de rojões. Ponte de Lima. Overdose de cabrito. Instala-se a dúvida: como é que o Minho não tem taxa de obesidade superior à dos EUA? Rio Lima - uma semana depois vimos notícias sobre a qualidade (ou falta dela) da água. Tarde demais. Valeu a pena o mergulho, mesmo que venha a ter erupções cutâneas na testa. Festa de Santoinho. A melhor festa de sempre. Esqueçam o Carnaval da Bahia, e até mesmo o de Torres, esqueçam os Santos Populares, esqueçam até o Natal. Nem o nascimento de Jesus/louca descida do Pai Natal pela chaminé (escolher a opção preferida) me enchem de quentinho como a maior festa de emigrantes do Norte. Uma romaria de lusodescendentes iguais ao Cristiano Ronaldo mas que "ne parlam pas portugais", trazidos pelos seus pais com fartas bigodaças e que trabalham em Lausanne. A maior concentração mundial de camisolas pretas com letras douradas a dizer "orgulho português". E nós estivemos lá. A comer broa, sardinhas, frango assado e... mais importante... a beber champarrião. Diz-nos a Wikipedia que é vinho verde com cerveja e açúcar. Nós bem sentimos qualquer coisa estranha no estômago no dia seguinte...! Actuação de ranchos folclóricos e de grupo musical com repertório de Tony Carreira. Em cada emigrante um amigo.
Póvoa do Lanhoso. Bungalow de madeira num parque aventura (porquê, meu Deus, porquê? Porque me meto nestas provações?). Perseguidos por uma vaca. Sobrevivemos. Chega de adrenalina para mim, obrigadinha.. 43 graus. Albufeira da Caniçada. Os nossos amigos emigrantes outra vez. À luz do dia são piores. Sobretudo porque têm todos o símbolo da Federação Portuguesa de Futebol tatuada no peito. Suspeito que acham que aquilo é a bandeira nacional.
Desfazer malas. Fazer malas.
Algarve. Arranjar um lugar na areia é mais dificil que resolver um cubo de rubik. Uma pessoa acaba por se render e ficar ao lado dum grupo de adolescentes de Vila Nova de Gaia, como sempre tivessemos sido amigos e tivessemos muito mais afinidades para além da escolha da praia da Falésia. Mas tudo vale a pena (mesmo com almas pequenas) quando a temperatura da água ronda os 24 graus. Repor os niveis de ómega 3 com peixe cru no Tako, que o último sushi já ia longe (estranhamente no Minho não há uma grande comunidade japonesa), e acabar sem dó nem piedade com o dolce fareniente, com regresso a Lisboa e escala em Tróia, só para o desmame não ser abrupto e não corrermos o risco de danos cerebrais (mais ainda dos que a leitura exclusiva de revistas cor-de-rosa já causa).
Desfazer malas... ao fim de muitos dias com elas a olharem para mim.
Agora... sopas e descanso, o que não deixa de ser irónico depois de três semanas em que era suposto descansar. A minha vida de trabalho é muito menos exigente que isto! Que bom estar de volta.
(*) O título deste post é uma passagem de uma obra da música ligeira portuguesa, da qual infelizmente nunca consegui encontra registo, mas que nunca esqueci!