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Monstro Bolero

Monstro Bolero

25
Abr07

Lisboa à Noite

Joan@
Eu e uma amiga cujo nome, por razões de segurança, não posso revelar, temos por hábito passear pelo maravilhoso sistema de saúde português. Digamos que... temos cartão da casa. É da ADSE, e dá direito a uma garrafinha de soro. Esqueçam o Lux, esqueçam o poker de dados, esqueçam a sessão da meia noite. Madrugada lisboeta a sério é na sala de espera do São Francisco Xavier.
A desbunda começa desde logo naquilo que dá pelo nome de triagem. É como se fosse o bengaleiro lá do sítio. Com a diferença de que não podemos deixar lá nada. Aliás o cartaz é bem explícito: não se responsabilizam por objectos perdidos: malas, carteiras, telemóveis, relógios, próteses! Já estou mesmo a ver alguém ir lá queixar-se de que perdeu o braço direito, e a enfermeira responder "Meu amigo, já sabe, qualquer prótese que abandonem aqui vai directa para o lixo. Esta senhora que saiu agora deixou a placa dos dentes, quer aproveitá-la?".
Segunda paragem: o preenchimento da ficha. Podemos dizer que este guichet corresponde ao espectáculo de transformismo lá do sítio. O senhor dentro do cubo de vidro não faz danças exóticas, nem sequer canta uma Barbara Streisand que seja, mas nota-se que tem potencial para isso e muito mais. Não sabia da ficha, não encontrava a morada, nem a localidade, e de repente exclama, como se tivesse tido uma iluminação superior (de um George Michael talvez): "Ah já sei! Vive na Rua do Guarda-Jóias!??". Perante a resposta negativa, expressou um desiludido "oh.." A questão que se impõe é: porque haviamos de viver na morada mais gay de Lisboa?? Realmente deve ser o sonho de qualquer homossexual poder dizer que mora no guarda-jóias. Tem glamour!
Segue-se a antecâmara do prazer: a sala de espera. É a pista de dança do hospital. Só tem uma diferença: ninguém dança. Pormenores. Há um DJ que diz "Umblina Alice ao Balcão Mulheres", entre outras coisas igualmente entusiasmantes, tais como "Cristina BANHA (pausa-durante-a-qual-a-locutora-se-diverte-à-grande-com-o-facto-de-haver-alguém-chamado-banha).... Gonçalves, ao Raio X". As personagens chamadas eram de tal forma exóticas que pensámos e não teria sido melhor darmos um nome artístico, para podermos ser chamadas ainda desse dia. É óbvio que com o mísero apelido Santos, só chegou a nossa vez na After-Hours da sala de espera. O que nem foi mau de todo. Porque tivemos direito a ouvir um Remix, entre o senhor que ressonava encostado à cabine telefónica, o que contava as aventuras e desventuras da sua cadela (à qual ele levava "inclusivamente uma sandes de fiambre e um café todas as manhãs"), e o assentir de uma africana, que apenas dava a deixa para o discurso da Rotweiller continuar.
E no fim disto tudo, chegamos a quê? Ao Raio-X, pois é, que no meio de tanta animação é o que menos importa. Podia fazer uma piada parva e dizer que já não saiu de lá de mãos a abanar, mas com uma tala no dedo indicador, que tem bem mais estilo. Mas, como disse, seria uma piada parva.

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