Subsídio de Coragem
Hoje estive prestes a não vir trabalhar.
Não estou doente, não me dói a cabeça, não tive de levar ninguém ao hospital, não morreu ninguém, não tive de ir ao médico, nem à loja do cidadão, nem às finanças, nem aos saldos.
Simplesmente liguei a televisão.
A minha hipnose matinal já é uma tradição, mas fui desenvolvendo alguns anticorpos para isso. Já sei com o que conto e sinto-me preparada para enfrentar o elefante Babar no canal 2, o professor de ginástica para a terceira idade na Praça da Alegria (que belos exercícios faz, com pacotes de arroz agulha!), o Quarteto Zé Cabeleira na SIC ou o "Roda Você", empolgante passatempo na TVI. Tudo bem. O embate por vezes é duro, fico zonza por uns minutos, entre o banho e o pequeno-almoço, mas consigo seguir em frente.
Contudo, hoje, sem que nada o fizesse esperar, a TVI pôs em acção uma arma secreta que quase me deitou por terra. Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira estavam a conduzir um "Especial - O que é feito de Anthímio de Azevedo?". Não se faz uma coisa destas às pessoas, logo pela fresca! (e nunca "pela fresca" fizera tanto sentido no contexto duma conversa). O guru da meteorologia, o homem que pôs o anti-ciclone dos Açores nas bocas do mundo e arrasou com a concorrência desleal de meninas que previam o tempo com mini-saias e botas pelo joelho... O grande Anthímio de Azevedo, em quem eu pensei tantos dias ao longo dos últimos anos, sobretudo agora que, como dizem as velhinhas "já não há estações!". Eu queria saber o que era feito deste senhor. Queria muito. E foi difícil interromper a conversa a meio, deixá-los lá, e vir trabalhar. Tão difícil que sinto que merecia um aumento. Um subsídio de heroicidade.