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Monstro Bolero

Monstro Bolero

02
Jul09

Comédia de Enganos

Joan@

Depois de há umas semanas atrás ter construído um questionário que prometia (enganosamente) a resposta à pergunta: "qual é o seu tipo de humor?", dei por mim a pensar qual era o meu tipo de humor, afinal. Não é nenhum dos definidos nas soluções, o que só prova quão medíocre era o quiz e, por conseguinte, quão inapta a sua autora.

O meu tipo de humor é, sem dúvida, o humor dos enganos.

Adoro as gaffes, as gralhas que nunca deviam ter sido impressas, os lapsus linguae, as conversas de surdos, os bloopers.

A pessoa que atende o telefone à confiança, pensando que o interlocutor é outro.

O miúdo que dá a mão a uma "mãe" que não é a sua.

O pivot que já está em directo e não sabe.

Gosto dos erros, dos mal entendidos, dos desentendimentos. Na televisão, na mesa de café, no cinema, no supermercado, nos filmes. Desde o "Aonde é que pára a polícia" que via com o meu pai e o meu irmão, quando tinha sete anos e estava mais concentrada no facto de eles se rirem do que com o que se passava no filme, até às comédias portuguesas dos anos 40, em que acabava tudo no Torel. Sempre fui adepta das sitcoms, precisamente por serem comédia de "situação" (diz o dicionário que é "ocorrência" e "vicissitude", conceitos que prometem). E toda a gente sabe que se há coisa propícia a enganos é uma casa artificial, com portas para todos os lados, onde personagens entram e saem de cinco em cinco minutos.

É por isso que entre teatro e cinema escolho o primeiro. Porque, vendo bem, é como se estivessemos todos dentro duma sitcom (mesmo quando a peça é dramática): também é uma casa artificial, com várias portas e uma data de gente a entrar e a saír de cena - não só no palco mas também no público, há muita malta que não aguenta mais de uma hora sem ir à casa-de-banho.

Até hoje as peças de que melhor me lembro (e vou ignorar propositadamente o Peter Pan, onde fiquei fascinada porque a Rita Blanco tinha voz de desenho animado e voava, imagine-se!) mais não são do que um gigantesco conjutno de enganos: "Dois Amores" (de Ray Cooney) e "Jantar de Idiotas" (de Francis Veber). E são absolutamente geniais.
O meu livro preferido, depois de ter lido já muita coisa boa, profunda, bem vista, sim senhora, continua a ser "A Crónica dos Bons Malandros", do Mário Zambujal, sobre a quadrilha de ladrões mais desajeitada de sempre, e percursora no "assalto à mão desarmada".

Quando é a minha vez de escrever, as minhas personagens preferidas também são as inaptas, as ignorantes, as trapalhonas (gosto dos derivados de "trapalhada", não era qualquer alusão aos Malucos do Riso brasileiros - Os Trapalhões!). Gosto muito de escrever a torrente livre de pensamentos (?) de Cristiano Ronaldo ou de acrescentar entradas no dicionário muito próprio de Denise e Maria Delfina.

Apesar de ser uma perfeccionista inveterada (ou invertebrada, como diria Denise de Magalhães) aquilo que me faz rir é a imperfeição. As falhas. Não sei se de admiração se de nervoso. Talvez de ambos.

18
Jun09

A Paulinha

Joan@

Depois de muitas horas a escrever, há momentos, raros, em que nos rimos (com vontade) de alguma coisa fabricada por nós. Não é necessário que seja algo muito engraçado, muito menos uma grande ideia... Não tem sequer que ter piada. Tem só de nos tocar num nervo qualquer. Da mesma forma que aos heróis se pede nervos de aço, aos guionistas deve exigir-se (para obtenção de carteira profissional, ou de um porta-moedas, pelo menos) qualquer coisa como nervo de plasticina. Foi o que aconteceu há bocado. Ao fim de muitas páginas de um guião que será filmado em breve, ri-me com esta estupidez que aqui vos deixo:

 

Primeiras explicações: a maquilhadora sofre de Parkinson. Treme imenso mas é óptima pessoa, a Paulinha. Há quem diga que ela é cinco estrelas, nós dizemos que é um 9 na escala de Richter.

 

24
Mai09

Tudo o que é bom acaba depressa

Joan@

Será?

Normalmente estas frases ancestrais fazem algum sentido. Afinal de contas, por alguma razão sobreviveram a todos os ataques de Alzheimer ou esclerose dos nossos "egrégios avós" e chegaram até aos nossos dias. A vida tem-me demonstrado, por A mais B e por outras letras mais, que de facto as coisas boas tendem a sumir-se depressa. Esta lógica aplica-se tanto a um pacote de bolachas Parmalat, como a um episódio (ou uma temporada inteira) de How I Met Your Mother, como a conceitos mais latos, tais como: "toda uma infância feliz e despreocupada" ou "aquelas férias grandes". Quando damos por nós, já passou, já acabou. Ficaram só as migalhas com cor de chocolate, os créditos finais, passando em corrida para não corrermos o risco de ficar mesmo a saber quem escreveu a série ou quem penteou os actores... Ficámos só nós, com mais rugas que no ano anterior, com menos dias úteis (ou inúteis, como se desejam) de férias para gozar.

Mas - também dizem as avós - não há regra sem excepção. E pode acontecer que uma coisa que até nos estava a dar um valente gozo dure um bocadinho mais. Como se afinal houvesse uma carga extra na bateria.

Afinal o Papel Químico pode não ter sido só um avistamento de cinco noites (e avistamento é o termo certo, quando aquilo que as pessoas fazem é assistir a um fenómeno do Entroncamento que dá pelo nome de Luís Franco-Bastos). Afinal pode haver mais seis noites de esquizofrenia, num teatro perto de si - dos lisboetas, para já. Depois o Mundo. E quem sabe um dia Olivença, "que também é Portugal!"

Tudo isto para dizer que nas noites de 20, 21, 22, 27, 28 e 29 de Julho, estamos de volta ao São Luiz. Regressamos de propósito para que quem não conseguiu ver à primeira, veja agora. Sentem a pressão desta responsabilidade? Óptimo. Era isso mesmo que eu queria. Depois no espectáculo o Rui Costa, o Figo , o Mourinho e o Jaime Pacheco explicam-vos como lidar com essa pressão que sentem.

 

15
Mai09

Tirado a (ferros e a) Papel Químico

Joan@

Tenho andado ausente do blog por um motivo muito válido. E desta vez nem sequer estou a referir-me aos motivos habituais, também eles muito dignos (leia-se "ver programas do Goucha" ou "ler revistas cor-de-rosa de semanas passadas").

Desta vez o motivo chama-se Papel Químico (dito desta forma até parece que me meti na droga - e na verdade foi mais ou menos isso).

O espectáculo já vinha sendo falado entre nós (o esquizofrénico Luís Franco-Bastos e a também mentalmente perturbada Ana Ribeiro) há longos meses, e finalmente estreou. Ontem.

E que tal a sensação? - perguntam vocês. Que pergunta tão estúpida, respondo-vos eu. Faz lembrar aquela mania das pessoas perguntarem "já te sentes mais velho?" assim que acabamos de soprar as velas de aniversário. Ainda assim, vou ser condescendente e tentar responder.

 

Apercebi-me de que estava realmente nervosa ontem quando fui a correr jantar a casa e dei por mim de tabuleiro, confortavelmente instalada no meu sofá, com a televisão ligada durante longuíssmos minutos no canal.... de teste da Zon. Ou seja, um canal com écrã sempre negro, ao melhor estilo César Monteiro. E eu a apreciar. Porque o filme que estava a ver passava-se todo dentro da minha cabeça. Chamava-se qualquer coisa como "ai-que-grande-catástrofe-que-isto-vai-ser-senhores". Mas, surpreendentemente, não foi. As pessoas até se riram mais do que duas ou três vezes, e chegaram mesmo a bater palmas.

Apercebi-me que continuava nervosa, já no São Luiz, quando dez minutos depois da peça ter começado reparei que não tinha os óculos comigo, tinha-os perdido algures no teatro, e como tal não estava a ver mais do que um vulto que eu desconfiava (tinha quase a certeza, até) ser o Luís. Já com metade do espectáculo decorrido, adivinhem. Sim, continuava nervosa, porque só nessa altura reparei que também não tinha o telemóvel comigo. Mas queria lá saber (e isto sim é um sintoma de que algo de muito anormal se passa).

Quando finalmente o texto chegou ao fim (e a verdade é que passou a correr) e o São Luiz ficou vazio novamente (ok, pelo meio houve alguns cumprimentos e amáveis palmadas nas costas!), é que percebi que já estava! Já passou! Como no fim das vacinas.

O que eu não sabia é que o grande momento ainda estava para vir. Nada acontece por acaso, e quando saímos apanhámos um táxi. Mas não era um táxi qualquer. Era um monovolume com uma porta daquelas de correr. Sempre sonhei andar num carro desses, para poder sentir-me um verdadeiro membro do Esquadrão Classe A. E tinha de ser ontem! 14 de Maio de 2009, claro. Faz todo o sentido. Controlei a ansiedade para não dizer "BA, BA, chamando Murdock!" enquanto descia a Rua do Alecrim. Foi um curto percurso este, é certo - pouco mais de um minuto. Mas vai durar a vida toda.

01
Abr09

Acerto de Contas

Joan@

 

Já está! Não custou nada! As PF fizeram dezasseis anos, eu só fiz dois deles, mas soam a qualquer coisa como uma década. Acho que ao passar da porta entramos numa espécie de máquina do tempo.

 

Em contas curtas e rápidas (que a minha (in)competência matemática não dá para mais), quando eu tinha 7 anos uns senhores, algures em Lisboa, acharam por bem dar existência real ao seu trabalho fictício. E eu queria lá saber. O meu trabalho fictício, à época, envolvia qualquer coisa como jogar ao Polícia e Ladrão ou capitanear uma equipa de futebol humano (e nisso é que eu era mesmo boa!).

 

Aos 11 anos via o Herman Enciclopédia com fascínio absoluto. Achava fantástico que um grupo de adultos, supostamente com idade para ter juízo, tivesse divertimentos capazes de superar um bom jogo das Escondidas. Coisas como o Diácono Remédios ou o Melgashop.

Por essa altura, essa inspiração servia para as festas de Natal que organizava numa parceria com o quarto do lado (o do meu irmão), torturando toda a família, durante a Consoada, com os nossos sketches, que envolviam sátiras a anúncios, telenovelas mexicanas e comícios do PCP. (Pelo menos nessa altura não havia preocupações com audiências, os meus tios e avós estavam emparedados entre a mesa do bacalhau e a dos doce, tinham que ver o espectáculo quer quisessem quer não).

 

Quando fui eu a fazer 16 anos, já tinha tido oportunidade de ver (e rever) O Programa da Maria, talvez o meu "all-time favorite", e apesar de já não servir de inspiração directa para festas de Natal (entretanto canceladas devido a súbito envelhecimento do meu irmão, que abandonou o comité organizador), servia para perceber que "somewhere over the rainbow" (ok, vou parar com o vocabulário inglês, que começo a assemelhar-me perigosamente com a Ana Free) continuava a haver gente com idade para votar e guiar e entrar em casinos, que optava por fazer da palhaçada uma profissão (não que votar, guiar e entrar em casinos não seja igualmente divertido, mas é difícil fazer disso vida, a não ser que sejamos membros de conselhos distritais, camionistas ou croupiers).

Isso dava-me alguma esperança, já que a minha profissão da altura era coleccionar faltas disciplinares, fruto de óbvia falta de sentido de humor dos meus professores da escola secundária.

 

Agora que as PF fazem 16 anos (e vão sendo também, algumas vezes, expulsas das salas por mau comportamento), eu começo a aperceber-me, muito lentamente, que já não tenho essa idade, embora esteja muito bem conservada. Ainda a semana passada, na farmácia, me deram 15 anos (e foi antes de eu ingerir qualquer tipo de comprimidos ou drageias). Do alto (ou neste caso de baixo) dos meus 23 anos, resta-me aprender muito, aprender tudo o que falta, e esperar um dia fazer alguma coisa que sirva de inspiração a festas de natal domésticas. Há quem deseje mudar o mundo, eu só desejo isso: parentes próximos ou afastados a agonizar por entre peru e rabanadas, enquanto os primos mais novos anunciam com pompa e circunstância o décimo oitavo sketch.

 

Hoje falou-se por aqui em "margem de progressão" (às vezes gostamos de imitar as palestras do Queirós), eu acredito (e nestes momentos de ingenuidade percebe-se que na verdade continuo a ter 7 anos) que não há outro sítio onde essa margem pudesse ser maior. Sobretudo porque existe margem de manobra. Espaço para tentativa, erro, voltar a fazer, tentar fazer melhor da próxima vez. Ainda acredito que a escolha pode ser nossa, entre fazer alguma coisa (com todas as chatices que isso implica) ou ficar à margem, a criticar o que os outros fazem. E vou parar imediatamente com este campo semântico da palavra "margem" porque não tarda nada vou parar à Margem Sul, uma coisa que quem me conhece sabe ser muito habitual (sobretudo ao voltante de um automóvel, tentando ir para outro sítio qualquer). Assim sendo, fico por aqui.

06
Fev09

A Escolha de Miguel

Joan@

Numa semana em que tanto se falou, e tão pouco se acertou, do caso Miguel Veloso, aqui fica um vídeo que ajuda a esclarecer as coisas. Escusam de nos agradecer. É assim uma espécie de serviço público.

  

 

Todas as sextas-feiras, vídeos de elevadíssimo interesse e pertinência, aqui.

16
Jan09

Cristiano nas aulas de condução

Joan@

Há pessoas que têm "o orgulho duma vida". Normalmente consubstanciado na figura do "meu mai'novo" ou "da minha Patrícia, que já é doutora".

Eu vou tento orgulhos semanais (às vezes diários) em coisas microscópicas e insignificantes, que não dão tanto trabalho como ter um filho, mas vão dando algum. E é bom quando sai bem (comparável, calculo, à felicidade da D. Dolores quando vê o "seu Cristiano" a receber prémios). Tenho de fazer esta salvaguarda: enquanto me orgulho do vídeo que aqui vos deixo não fui a correr vestir um fato-de-treino cor-de-rosa e um boné!

O meu orgulho desta sexta-feira é esta criação (conjunta, com a Ana Ribeiro, o Roberto Pereira e o "imitador crónico").

 

 


(peço a vossa atenção para os efeitos especiais, estamos a aproximar-nos perigosamente de Hollywood!).

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