Parece-me sempre que tenho pouca roupa. Preciso sempre de comprar mais camisolas, outras calças, uma camisa doutra cor. Faltam-me uns ténis novos, já há meses que não compro. Preciso de mais umas t-shirts. Sim, sem dúvida, tenho pouca roupa.

Até que chega o momento da verdade. O de fazer as malas. E essa roupa (tão pouca) que tenho, de repente, parece multiplicar-se. Fazendo um paralelo (parvo) com este universo das roupagens, eu a fazer malas sinto-me como uma obesa de grau dois a tentar vestir umas calças tamanho 32. De cabedal. E porquê de cabedal? Não sei. Acho que foi só para tornar o momento mais deprimente e desconfortável. Porque ainda tenho ali uma mala aberta a olhar para mim, à espera de solução. Ainda só pus lá metade da roupa e ela já mal se fecha. E tudo isto se resolveria se eu tivesse à mão de semear um Antímio de Azevedo, o guru da meteorologia. Ou melhor, vários Antímios, com diversas especialidades. Um para me dizer que tempo vai estar em Espanha, e em França, e na Alemanha... Outro para me dizer qual vai ser a minha disposição em Espanha, e em França e na Alemanha... Outro para me dizer se vou preferir usar azul, ou verde, ou encarnado... Outro para se deixar destas conversas, ir direito ao assunto e fazer a porcaria da mala duma vez por todas....

Não acham fascinante aquela multidão que empunha cartazes no aeroporto? Deve ser uma emoção fantástica chegar de um país distante (ou até próximo, não interessa para o caso) e ter à nossa espera um cartaz como "Viagens Senior Lda" ou "Teresinha e Filhos", mas... aposto que ainda ninguém pensou nisto: não seria mais prático que o próprio viajante que chega se identificasse? (para desenvolver esta tese baseio-me no velho ditado "quem chega saúda"). Assim seria possível vermos as pessoas a surgirem na porta do aeroporto, carregadas com malas e sacos, mas ainda com uma mãozinha para segurar em cartazes do tipo "mãe, estou aqui!!", uma inversão de papeís que talvez resultasse e desse um colorido especial ao aeroporto! Para a próxima, experimentem, o máximo que pode acontecer é serem adoptados por uma mãe alheia, que até só ia buscar a Teresinha e os filhos ou representar a Agência de Viagens Senior, mas que, ao ver um jovem tão bem parecido precisado de uma mãe, deu um jeitinho!

Já em terras de Sua Majestade, chegada a hora de dormir, uma das minhas companheiras de viagem (por sinal aquela que se tinha esquecido do bilhete de avião e só tinha dado por isso em plena segunda circular, às 8 da manhã de uma segunda feira), descobriu finalmente de que mais se tinha esquecido - do pijama! E à nossa "repreensão amigável" - tu também, esqueces-te de tudo!", ela responde indignada (e diria até já um pouco enfastiada/aborrecida - estas expressões ficam sempre a matar) - "NÃO FOI ESQUECER, EU É QUE NÃO ME LEMBREI!!". Ah pois é! Nunca se tinham lembrado desta distinção, mas ela existe para dar cabo de nós e impedir qualquer hipótese de implicância quando têm algum amigo que se esquece de tudo, até da escova de dentes se for preciso (ignorando os apelos de anos e anos da Teresa Guilhereme).

Agora vou pedir desculpa por esta interrupção do blog nos últimos dias, fingindo ingenuamente que vocês (como se existisse um "vocês" neste blog) têm sentido imenso a falta dos meus posts! Continuando o meu teatrinho vou justificar a razão do meu silêncio (como se, para além de ter notado, alguém estivesse preocupado com o que era feito de mim!) - pois é!, depois de tantos momentos de suspense eu revelo: "estive no estrangeiro" (é tão bom dizer esta frase não é? ela confere-nos o indescritível poder de parecermos importantes e ocupados mesmo que tenhamos ido apenas a Badajoz comprar rebuçados para a garganta!!).