É bom saber que os anos passam e há coisas que nunca mudam.
A começar por nós próprios.
A primeira missão de 2009 era, aparentemente, simples. Ir até à Sé de Lisboa.
Explicaram-me como era, e eu confirmei no Google Maps. Mas já me conheço. E sei que de ontem à noite para hoje não mudei assim tanto (as passas ainda não têm esse poder, o champanhe com qualidade, talvez, mas o nosso era espumante Raposeira). Por isso resolvi pedir emprestado o GPS do meu pai.
Programei-o para o Largo da Sé, estava tudo bem. No fim da minha rua percebi que não o tinha colocado numa posição muito boa e que não se ouvia bem o som. Pára tudo. Lá mexi nele, ele ainda me perguntou se queria ir para o "destino mais recente, Monte Gordo", e eu disse-lhe que não. Seguimos viagem (eu e ele). O que eu não sabia é que iamos para sítios diferentes. Comecei logo a estranhar quando me mandou para a A5. Mas obedeci. Afinal de contas ele é que é especialista na matéria. Estranhei ainda mais quando me mandou sair em Monsanto, passar pelas quatro saídas da rotunda, e votlar a entrar na auto-estrada. Tudo bem, estava a pôr-me à prova, com isso posso eu bem. De novo na A5 pediu-me que encostasse à direita. E eu pensei "na faixa da direita vou para a Ponte". Ele insistiu. E entre confiar no meu sentido de orientação e conhecimento geográfico, ou na máquina, optei por ela. E claro que fui até Almada. Um bonito passeio. Olhei com mais atenção para o écrã e percebi que estávamos a trezentos e tal quilómetros do destino. Parece que a pergunta sobre querer ir ou não a Monte Gordo era retórica. Ele já tinha decidido. Depois houve um alegre voltar atrás, com o GPS sempre a pedir-me que fizesse o contrário do que eu queria. Foi uma espécie de teste psicomotor, acho que até me saí bem, porque rapidamente estava nas portagens. Eu e toda a população que tinha ido passar o "revelhão" fora. Divertido!
De volta a Lisboa, e não aprendendo com o exemplo anterior, continuei a ligar mais a um aparelho que dá pelo nome de Tom Tom do que à minha consciência. E isso valeu-me, entre outras coisas, duas voltas seguidas à Praça da Figueira (que estaria ainda a contornar agora se não tivesse decidido ignorar as instruções). Quando cheguei minimamente perto do destino (neste momento "perto" era qualquer sítio na Grande Lisboa), parei o carro e resolvi seguir a pé. Sem GPS nem sinais de trânsito a atrapalhar ia ser canja. Pois ia. Disse à paciente pessoa que esperava por mim há cerca de duas horas, que estava à porta da Sé de Lisboa. Ela foi lá buscar-me.
Mas eu não estava lá, afinal. Aquilo que eu achava ser a Sé de Lisboa era uma igrejinha qualquer, em frente dum mini-mercado.
Enfim, lá cheguei ao meu destino. O amigo Maquiavel achava que os fins justificam os meios, e eu tenho de concordar, embora os meus meios sejam às vezes longos demais, sobretudo com a gasolina tão cara.
Mas nada disto foi em vão.
Primeiro, recebi uma grande lição de moral: há coisas que nunca se pedem emprestadas, tais como os filhos, os animais de estimação, a roupa interior e os GPS. (não necessariamente por esta ordem, já que a partir de hoje mais depressa peço emprestado um bebé de 6 meses do que qualquer coisa aparentada com uma bússola).
Depois, arranjei uma resolução de ano novo perfeita, sem ter de puxar pela cabeça: visitar a Sé de Lisboa, para conseguir reconhecê-la quando estiver na sua presença.
Este post poderia chamar-se também assim: "Como transformar um feriado cinzento e aborrecido num divertido rally paper sem regras definidas, para jogar individualmente".
Tenham um Ano Novo muito... Próspero. Palavra que eu muito aprecio e que só é posta a uso na pssagem de ano (é o equivalente aos talheres de prata que só se vêem no Natal, mas na versão linguística da coisa).