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Monstro Bolero

Monstro Bolero

28
Abr11

Aspiração ao banal

Joan@

Quando estamos doentes, por mais insignificante que seja a doença (e felizmente não sou diplomada para falar de doenças sérias e graves, e espero nunca conseguir tirar essa pós-graduação), de repente as coisas mais enfadonhas do mundo tornam-se nos nossos desejos mais profundos. Noutro dia, a caminho duma consulta, olhava pela janela e tinha inveja genuína de todas as coisas absolutamente banais que as pessoas faziam na rua. De repente levar o carro à revisão pareceu-me um programa espectacular (mesmo que fosse diagnosticada uma doença gravíssima ao meu automóvel, antes ele que eu), estar na mercearia a escolher as melhores pêras rocha, ou até mesmo trabalhar na própria mercearia (tendo 80 anos e escassez de dentes, como a senhora), conduzir um táxi (e ter bigode), acartar com bilhas de gás às costas ou distribuir a Dica da Semana, tudo isso me pareciam alternativas espectaculares. Todas aquelas vidas me pareciam muito melhores que a minha, naquele dia, àquela hora. Felizmente estava sem tempo para trocar de personalidade com aquelas pessoas. Foi o melhor que fiz, porque agora que termina (acho eu) o calvário de exames e de ingestão de sopa de cenoura e frutinha cozida, parecia-me pouco razoável a troca (se bem que a distribuição da Dica da Semana ainda faz o meu coração balançar... é que parecendo que não, é uma profissão que permite conhecer os cozinhados do chefe Hernani Ermida antes de toda a gente, e saber se nessa semana o Lidl tem máquinas de pão em promoção). A conclusão a tirar disto (além de que ingestão de pêras cozidas a longo prazo pode provocar delírio),  é que quando estamos saudáveis sonhamos alcançar as coisas mais absurdas: conseguir os mínimos para os jogos olímpicos de Londres, passar um mês nas Bahamas, ganhar o Euromilhões, ir jantar ao melhor restaurante do mundo... Ao mínimo sinal de doença, tudo aquilo a que aspiramos é banal, e de repente uma tosta mista afigura-se-nos como o único prato gourmet da humanidade. 

 

02
Jan11

A Febre da Década

Joan@

31 de Dezembro de 2010:

 

Já não me lembrava de ter uma gripe assim. Daquelas com tudo a que se tem direito: febre a sério (para mim, que tenho como temperatura habitual 35º, ou seja, passo grande parte da vida com temperatura de cadáver e aproximo-me perigosamente da morte quando aqueço um bocadinho), calor, arrepios, transpiração digna de Carnaval da Bahia, frio, dores na parte da frente da cabeça, na parte de trás da cabeça, e naquela parte que eu não sabia que tinha na cabeça (dito assim subitamente parece que estou a referir-me a cornos, mas vou deixar estar e resistir ao impulso de apagar), dores na garganta, nos ouvidos, nos dentes e no maxilar (sim, vá-se lá saber porquê), dores nos ossos dos pés como se tivesse acabado de entrar no mar da Ericeira (como se pertencesse àquele grupo de idosos dementes que dão mergulhos no Ano Novo), aquela sensação incomparável de ter levado com uma moca de madeira de um qualquer Flinstone em cheio no pescoço.

 

1 de Janeiro de 2011:

 

Acordei às 8 da manhã para me encher de mais uma dose de estupefacientes, e qual não é o meu espanto quando me sinto deslizar até à cozinha, como quem participa no mais recente videoclip do Usher (não teve assim tanto estilo, até porque estava com um pijama do Snoopy, mas o que importa reter é que o andar já não era entorpecido e mole). Recorri aquela medição absolutamente rigorosa que passa por enfiar um bocado de mercúrio debaixo da axila e descobri que já não tinha febre. Ainda estava nuns elevadíssimos 36 graus e tal, o que fazia do meu organismo uma espécie de Albufeira em Agosto, mas já estava a voltar ao normal.

 

Posto isto, a tosse cá continua, restos doutros sintomas também, mas febre nem vê-a. Já tive febres mais altas mas esta foi a campeã, indiscutível, em termos de qualidade/tempo. Conseguiu fazer grandes estragos em pouco mais de 24 horas e depois, tal como apareceu, desapareceu. E a questão que fica no ar é: "porquê"? Ou, para os mais dramáticos (ajoelhando-se e erguendo mãos para o céu) "porquê meu Deus, porquê logo no último dia do ano!?". Avento já varias hipóteses:

a) Tratou-se apenas e só de greve geral do meu organismo ao reveillon. E o que é certo é que pela primeira vez em 24 anos me livrei das passas...

b) Foi o Universo a dizer "ficas em casa a ver a Casa dos Segredos, que depois de 3 meses como mais fiel espectadora, era o que faltava não apoiares a Ana Isabel na final". (Agora fiquei na dúvida se terá sido o Universo ou "A Voz").

c) Foi Deus (há uma música assim, não é?) a evitar que eu tenha saudades de 2010 e a mostrar que a Maya tem razão quando diz que os capricórnios serão saudáveis em 2011 (sim, Deus lê o Tarot da Maya, é só por isso que ele compra o Público ao Domingo).

d) Foi a minha mãe (as mães têm formas misteriosas de nos adoecer, nem sempre recorrendo a veneno na sopa), com medo que eu me embebedasse na passagem de ano e, à beira dos 25 anos, iniciasse uma carreira no alcoolismo que acabaria por ser fatal e deixar toda a família inconsolável.

e) Foi a única maneira de eu ter finalmente um fim de ano memorável, depois de ter tentado ser feliz em Santa Cruz, em Trinidad e Tobago, na Ericeira, no Vimeiro, no Casino da Póvoa, no Restelo, numa festa de travestis, na Bahia, no Terreiro do Paço e na Nicarágua (alguns destes destinos podem não corresponder inteiramente à verdade).

f) Foi azar, a 31, e sorte, a 1. Mau fim, bom início. Antes assim.

 

Venham de lá os outros 364 dias.

16
Out09

Contra os espirros, o coma induzido

Joan@

Hoje venho falar-vos da minha experiência com anti-histamínicos. Mais precisamente com a oxatomida, o princípio activo de uns comprimidos que me deixam absoultamente inactiva, do princípio ao fim. É certo que cumprem a função pela qual recorro a eles: acabar com a alergia. Mas pelo caminho, levam tudo o resto. A insensibilidade no nariz, na boca, nos olhos ou nos ouvidos é tanta que era impossível lá ter qualquer tipo de comichão, ardor ou sensação minimamente humana. Por outro lado, e apesar de não estar descrito nos seus mil efeitos secundários, este tipo de químicos deixa-me num estado ao qual dou o nome de  "demasiada autoconsciência". Eu sinto demasiado as partes integrantes do meu corpo. Sinto demasiado que tenho duas pernas, dois braços, uma cabeça (apesar deles, em si mesmos, estarem como já vimos insensíveis). Tenho demasiada noção de que eles lá estão e do quanto pesam. É difícil coordená-los de forma a pegarem em objectos ou subirem escadas (atenção: só solicito o agarrar de objectos aos braços e a subida de escadas às pernas, os efeitos secundários ainda não abrangem esse grau de confusão mental). Por isso o conselho que aqui deixo é: criançada, mantenham-se longe das drogas. E mantenham-se também longe de gatos, animais que podem obrigar-vos, pela sua largada compulsiva de pêlo, a consumir essas tais drogas. E agora vou fechar os olhos e dormir em cima do teclado. Já está.

15
Out09

Tudo amukinado

Joan@

Agora, e a mando da Direcção Geral de Saúde, todos tratamos as nossas mãos como se fossem alfaces, já se sabe. Não quer isto dizer que as temperemos com azeite e vinagre (embora seja talvez uma hipótese a ter em conta) mas sim que as desinfectamos constantemente com uma espécie de Amukina para humanos. Aqui na casa-de-banho das PF há dois desinfectantes ao serviço dos utilizadores: um deles gaba-se de eliminar 99,9% dos germes, o outro vangloria-se por arrumar com 99,9% das bactérias. Ora a mim parece-me claro que a causa da nossa morte vão ser os 0,01% de micróbios que nem um nem outro conseguem exterminar.

18
Abr09

Ainda aqui estou

Joan@

E agora dou por mim a fazer aquele exercício estúpido de imaginar tudo o que poderia fazer com 527 euros... Isto, por exemplo. 7 noites na Ilha do Sal (e ainda tinha troco). Mas, pensando bem, isso implicaria mais umas quantas vacinas. E quando em vez de tirar sangue se põe um produto, imagino que a coisa escale para valores na ordem dos dois mil euros.

 

Mas neste momento, até coisas que não me interessam nada, como comprar um trem de cozinha, ou 50 postas de Bacalhau crescido da Noruega, me parecem subitamente interessantes.

 

Ora, se eu aqui há uns tempos disse isto:

A questão é... depois de ter pago 41 euros por duas fotografias (no fundo, não é mais do que isso), o mínimo que se pede é que o resultado sejam meia dúzia de hérnias. Senão peço o meu dinheiro de volta, imaginem o meu estado de espírito  neste momento. Podia ter feito mais de 12 radiografias! A várias partes do corpo! Do fémur ao cúbito, passando por cada uma das falanginhas e falangetas das mãos e pés.

 

Agora, o mínimo que se exige é que todos os valores das ditas análises estejam alterados e que eu tenha, na melhor das hipóteses, um mês de vida.

 

("Ai credo, Joaninha! Não digas isso!", era o que diria a minha avó se lesse isto).

 

Felizmente a minha avó não está aqui para ouvir o vernáculo que tenho usado na última meira hora. Agora vou tentar prosseguir com o meu dia. Com licença.

 

18
Abr09

Análises C(l)ínicas

Joan@

Dizem que a melhor forma de resolver os problemas é enfrentá-los (uma espécie de verdade popular não confirmada e por vezes até desmentida!).

Foi com isso em mente (e outras coisas mais) que acordei antes das 7 da manhã de um sábado para ir tirar sangue. E pela primeira vez fui sozinha. O que significa não ter levado um para-médico, uma assistente social, um guarda-costas, um curandeiro, ou até mesmo a minha mãe (hipótese mais rebuscada, esta).

E resultou! Deitei-me (só por precaução, não fosse partir a cabeça na queda), a senhora tirou o sangue que tinha a tirar e ficou tudo bem. Porque é que foi tão fácil? Porque pela primeira vez o meu grande (enorme!) mal estar deu-se logo na recepção! No preciso momento em que tive de pagar 527 euros pelas ditas análises. Sim. Quinhentos e vinte e sete euros. Cabe mais do que o salário mínimo num frasquinho do meu sangue! E o mais ridículo é que são outras pessoas a ficar com um fluído corporal produzido por mim, e eu é que pago para cima de cem contos. Tudo bem. Parece-me tudo muito justo.

Da picada não me lembro. Náusea? Qual náusea? Tudo a andar à volta? Nada disso aconteceu. Já podiam ter avisado que era esta a solução. Se eu pagasse as minhas próprias análises desde os seis anos ter-se-iam evitado muitas cenas de histeria, gritos, enfermeiras a correr atrás de mim pelos corredores, noites em branco a pensar nas agulhas, desmaios e outros achaques. Era darem-me um cartão multibanco para a mão e pronto.

A partir de hoje vou deixar de ter pesadelos com seringas gigantes e cheiro a desinfectante e passar a acordar a meio da noite, alagada em suor, quando ouvir a citação:" Qual é o seu sistema de saúde? Particular".

09
Abr09

Formas Luso

Joan@

Uma nota prévia: se acredita mesmo que é a beber esta água que vai emagrecer, por favor desista desde já de ler as linhas que se seguem, e continue a beber Formas Luso e outras que tais, de preferência a acompanhar aquele leitão da bairrada bem tostado que come a meio da manhã (vai muito bem também com os cachorros quentes e os rissóis que come ao lanche, ajuda a empurrar e deixa mais um espacinho para a sobremesa - a inevitável lampreia de ovos, claro).

 

Posto isto, vamos ao que interessa:

1) Formas Luso não é um bom nome, porque referindo-se "luso" àquele que é português, acho que não deve ser ambição de ninguém ter uma forma luso (mais conhecida como "barriga de cerveja, mais proeminente que a de uma grávida de 8  meses"). Mas tudo bem, pelo menos não é publicidade enganosa.

2) O mais recente anúncio destes senhores promete "trânsito intestinal regulado ou o seu dinheiro de volta". E a questão que surge é: como se faz prova disso?! É que eu ainda percebo que uma pessoa consiga ir ao Jumbo mostrar umas alfaces que comprou no Continente por menos 2 cêntimos, e que assim receba o merecido reembolso.

Agora, como é que o uma pessoa se dirige à sede das águas do Luso (repararam na polissemia da palavra "sede" nesta frase? Espectacular!), continuando: como é que uma pessoa vai ter com os senhores das Formas Luso e prova que o seu trânsito intestinal não está regulado e que merece ser indemnziada?

 

(Pausa para pensar).

 

Prefiro não pensar mais acerca disto.

 

 

28
Fev09

RX

Joan@

Hoje, entre as 10h50 e as 11h10 da manhã, fiz uma data de actividades fascinantes, todas no mesmo lugar.

Não, não fui àquela feira popular improvisada em Alcântara. Fui ali à Clínica Joaquim Chaves, fazer uma radiografia a uma zona do corpo que nem sabia existir, mas que ganhou todo um novo significado: a região "lombo-sagrada". Sabiam desta designação? Afinal temos ali uma zona de culto mesmo antes do rabo e não sabíamos.

A primeira coisa que comecei por fazer foi ouvir a senhora da recepção desfiar o rol de doenças que uma velhinha podia hipoteticamente ter, para saber se era seguro ela fazer uma ressonância magnética. O pior é que o único problema grave que detectei na senhora era uma surdez preocupante, pelo que a conversa era qualquer coisa como isto:

 

- Doença coronária, tem?

- (silêncio)

- Doença coronária, tem ou não?

- Doença quê?

- Coronária!

- Não não...

 

Estamos perante um caso claro de "responder só para não contrariar". Acontece-me várias vezes, mesmo sem ter 80 anos. Não percebo o que a pessoa diz, pergunto uma vez... continuo sem perceber, e opto por uma resposta neutra.

Aquela senhora simpática de cabelo branco fê-lo, sucessivamente, para cerca de 40 enfermidades. Por esta altura estará provavelmente inanimada dentro da máquina da ressonância. Porque não percebeu que lhe tinham perguntado se tinha "desmaios frequentes ou epilepsia".

 

Infelizmente não pude acompanhar mais este episódio porque fui chamada para uma espécie de excursão para outro corredor, com vários senhores de meia-idade. Eles foram autorizados a sentar-se normalmente na sala de espera nº2, mas a "senhora Joana Marques" (são as únicas pessoas que me dão crédito e me tratam formalmente, os enfermeiros), teve direito a uma pequena praxe. Teve de entrar para uma salinha, despir-se e vestir uma bata (com direito àquelas imitações de pantufa brancas e tudo). Ou seja, consegui finalmente mascarar-me antes que a época de Carnaval acabasse. Mascarei-me, mais concretamente, de exibicionista do metro, mas em versão feminina. Felizmente a composição da personagem demorou o suficiente para passar directamente para a sala de Raio-X sem ter de me sentar com os outros convivas naquela figura.

 

A questão é... depois de ter pago 41 euros por duas fotografias (no fundo, não é mais do que isso), o mínimo que se pede é que o resultado sejam meia dúzia de hérnias. Senão peço o meu dinheiro de volta.

29
Jan09

A Dor

Joan@

O que fazer quando decorre uma intifada dentro da nossa garganta, ali na fronteira das amígdalas com a faringe?

Talvez uma operação suicida, à boa moda do Hamas, seja a melhor solução.

Ou isso ou um belo dum Augmentin Duo.

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