Já todos nós falámos, ou ouvimos falar (para aqueles que têm vergonha de admitir que já o fizeram) nessa entidade gastronómica que é o tutti frutti. Falamos de tutti frutti como se fosse uma coisa que nascesse nas árvores. Ora, a utilização deste italianismo só faria sentido se também falássemos em iogurtes de fragole ou gelatina de albicocca. Lá porque o tutti frutti é um amontoado de frutas não me parece que seja menos merecedor de tradução. Não vejo razões para que não se imprimam rótulos em bom português, dizendo "todas as frutas". A segunda opção é utilizar o sinónimo nacional para tutti frutti: um bongo.
Com a quantidade absurda de Noddy's, dos zero aos dez anos, que circulavam ontem pelos corredores do Continente, esta pergunta impõe-se: se aquelas crianças se perderem, vão para o balcão de informações ou são encaminhadas logo para o Canal Panda?
Já o conceito de Liquidação Total, eu achava que percebia... até ao dia em que me disseram que não, não envolve motoserras, nem metrelhadoras, nem uma arma branca que seja. Não jorra nem um mililitro de sangue. É uma tristeza, mais parecem os saldos! É que eu juntava o termo "liquidação total" ao "reduções" e fazia todo o sentido. Havia um filme a decorrer na minha cabeça, que foi abruptamente interrompido. Logo quando prometia ficar mais interessante. Não se faz! Afinal é uma espécie de novela da TVI, com muitas empregadas de loja loiras e a mascar pastilha. Desinteressante.
É roupa que já teve várias oportunidades de ser comprada, mas ninguém quis levar para casa, e que agora é ligeiramente mais barata, mas ainda assim, tem preço superior a zero euros, o que implica que vá ficar na loja para sempre. Porque era preciso pagarem-nos para, no final duma estação, levarmos para casa coisas que nunca quisemos quando até podiam ser úteis. Tipo aquele casaco num tom entre o roxo e o esverdeado, que ainda assim tinha a vantagem de ser quentinho. Ou aquele guarda-chuva com desenhos do Asterix que, pronto, podia ser útil ter no carro em dia de dilúvio.
Não sei se costumam frequentar hipermercados. Calculo que não seja propriamente uma escolha. Tirando os (dois ou três) que o fazem por puro e simples divertimento, com os quais me identifico a 100%, acho que todos acabam por lá ir parar mais dia menos dia. É quase tão fatal como o destino. E para mim, é muito mais fabuloso do que qualquer sina, passear pelo corredor das conservas vegetais. Mas gostos não se discutem. Contudo, hoje descobri nesse mesmo local de peregrinação uma coisa chocante, que venho partilhar convosco. Há um caso de perda de identidade, transfiguração e absoluto desnorte no mundo dos enlatados! Então não é que a Compal resolveu mudar de embalagens tornando-se praticamente um clone da Ferbar? Meus amigos, isto é gravíssimo! Poderá inclusivamente destruir agregados familiares inteiros. Já pensaram o que é um pai de família achar que leva para casa um grão de bico Ferbar quando na verdade leva feijão encarnado Compal? É que transvestidas umas das outras, estas latas estão mesmo a pedir confusão.
... Eduardo Cid, director geral do Pingo Doce que fala, a custo, no novo anúncio: só tinham mesmo as duas alternativas de que fala? Aumentar uns cêntimos nos productos lácteos ou disfarçar esse aumento noutros produtos? Não havia uma terceira opção que era "contratar um actor para fazer este anúncio?".
Mais um desafio que vos proponho neste tão estimulante como entediante blog! Vamos imaginar batalhas, que podem desenrolar-se em qualquer campo... A primeira que vos sugiro é a batalha no Hipermercado, um conflito de dimensões quase mundiais! Imaginem quão duro seria o exército dos torrões de alicante, tostas integrais e pedras pomes! E por outro lado, a aspereza dos esfregões da loiça, weetabix e vinhos a martelo!! A juntar à contenda, a fria estratégia dos congelados e lacticínios, a força explosiva dos feijões, lentilhas, grão de bico e das águas gaseificadas, o espírito de sobrevivência dos cogumelos laminados, a coragem dos detergentes e enceradores, a união da polpa e dos néctares, os terrenos movediços dos óleos vegetais e azeites (virgens mas com muita escola). E acreditem que tudo estará bem enquanto não penetrarem nem no reino do arroz, comandado pelos Marechais Agulha e Carolino, nem no condado italiano da massa, ainda no sistema ditatorial de "culto do chefe", Farfalle! No meio de tantas forças opostas, as vítimas seriam inevitáveis, bem como os mártires de guerra... Fortes candidatos, pela sonoridade dos nomes, são o atum Catita, o pão Tigre e o Pudim Mandarim. Talvez não fossem cortadas estradas, mas muitas caixas encerrariam. Como em todas as guerras as consequências sócio-económicas seriam devastadoras... muitos entrariam em saldo, outros veriam amigos e familiares serem vendidos a um euro, os mais sensíveis entrariam em depressão, enveredando pela mais penosa solução - a da liquidição total. Não creio que houvesse derramamento de sangue, mas pelo menos ruptura de stock!
Uma ida ao Jumbo acaba por ser SEMPRE compensadora! Porque vemos, a cada visita, algo de inédito, e inevitavelmente comovente (ou não se passasse tudo ao som da Rádio Jumbo - e isto é verídico, garanto). No episódio de hoje pude assitir ao diálogo entre uma senhora, digamos, idosa, e um senhor nao menos idoso. Na verdade era mais um monólogo, já que a senhora não deu grandes hipóteses ao seu interlocutor, dizendo-lhe "desculpe não está com pressa não? (isto enquanto já puxava o panfleto que ele levava debaixo do braço).. é que eu queria ver o que é que há agora em promoção, comparar os preços, sabe!..." E lá fui eu, a muito custo confesso, andando no corredor e deixando para trás estes dois ádoráveis seres, na sua partilha emocional do folheto de promoções do Jumbo.