Ontem assisti ao melhor momento de televisão dos últimos anos. Há muito tempo que não me ria assim. E não tem nada a ver com os corninhos de Manuel Pinho. Quer dizer, indirectamente, tem. Mário Crespo lá estava, às nove em ponto, com o seu sorriso sarcástico, pronto a dissecar o assunto com José Gil. E como é que enceta a conversa? Pedindo um comentário às imagens? Não, claro que não. Passou-se assim:
"Apetece perguntar, como perguntou Cândido a Pangloss, o professor de Filosofia, ao chegar a Lisboa, no dia do Terramoto: o que é isto?".
Seguiram-se uns segundos de silêncio perplexo do convidado, que com certeza pensava para si próprio também "o que é isto?". Eu, quando consegui parar de rir, pensei como será a vida doméstica de Mário Crespo. Imaginem-no a entrar na cozinha, destapar a panela do jantar e não perceber bem o que está lá dentro... Grita então para a sua esposa:
"Maria! Apetece perguntar, como perguntou Cândido a Pangloss, o professor de Filosofia, ao chegar a Lisboa, no dia do Terramoto: o que é isto?".
Ou então, o Mário Crespo automobilista, que vê o seu carro ser abalroado por outro. Sai do carro, exaltado, olhando para os estragos no seu pára-choques, e diz ao condutor:
"Ó amigo, apetece perguntar, como perguntou Cândido a Pangloss, o professor de Filosofia, ao chegar a Lisboa, no dia do Terramoto: o que é isto?".
Isto nos dias em que Mário se sente mais Voltaire, claro. Se calhar há outros em que acorda mais a dar para o Camiliano (de Oliveira) e cita apenas a célebre: "lá fora tá-se pior, tá-se, tá-se!".